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Empreendedorismo versus perenidade

Seja por falta de infraestrutura, falta de incentivos reais e adequados, burocracia extensa e sistema tributário enlouquecedor, empreender no Brasil é uma aventura.

Seja por falta de infraestrutura, falta de incentivos reais e adequados, burocracia extensa e sistema tributário enlouquecedor, empreender no Brasil é uma aventura. Mesmo para os mais organizados, que, antes de iniciar esse caminho, traçam um planejamento estratégico, é difícil cumprir as definições e metas traçadas no plano, por conta das constantes mudanças nas variáveis externas à empresa.

A Constituição Federal de 88 estabelece que a primeira função de uma empresa é ser perene, atravessar os tempos, independentemente das atitudes do empreendedor, já que este tem sua ação limitada a um período: sua vida. A existência de uma corporação deve superar a de seus executivos e fundadores.

Há incontáveis obstáculos para que se cumpra essa função. Mas, antes de queixar-se das dificuldades externas, o administrador deve observar os desafios que ele próprio cria. Empreendedor é, na definição de Joseph Schumpeter, “aquele que destrói a ordem econômica existente pela introdução de novos produtos e serviços, pela criação de novas formas de organização ou pela exploração de novos recursos materiais.” Apesar de muitos se lançarem em busca de um negócio próprio, esse comportamento não é comum.

A inovação tão enfatizada acima não é necessariamente a criação de um novo produto ou a destinação de parte do faturamento a P&D. Para o pequeno empresário, pode significar a revisão de processos, a utilização de softwares e aplicativos – muitos deles gratuitos – na operação e a integração entre departamentos.

Ações como essas elevam a produtividade da empresa, reduzem custos e, consecutivamente, aumentam a competitividade. A eficiência se refere a obter o máximo do resultado utilizando o mínimo de recursos e deles extraindo o resultado máximo, o que reduz as perdas.

É um conceito óbvio, mas, na cultura empresarial do país, sua adoção representa um diferencial. Para concluir isso, basta olhar a realidade atual. Um estudo apresentado em maio de 2015 pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostrou que, para 62% dos empresários consultados, o Brasil tem um grau de inovação baixo ou muito baixo. Entre as justificativas elencadas, figuram a defasagem tecnológica acumulada em anos, que acaba por incentivar a importação, falta de cultura inovadora e baixo nível de escolaridade entre os profissionais.

Outro estudo, publicado pelo Conference Board, organização que congrega empresas de todos os continentes, aponta que a produtividade do trabalhador brasileiro corresponde a um quarto do norte-americano, o que deriva do baixo nível educacional, falta de qualificação de mão de obra, gargalos da infraestrutura, entre outros. A entidade destaca ainda que o crescimento médio da produtividade no país, entre 2003 e 2012, foi de 1,1%, o menor entre os chamados BRICs, e, em 2013, a produtividade do trabalhador brasileiro foi a menor em toda a América Latina.

Não surpreende que o país tenha perdido, em setembro do ano passado, mais 18 posições no ranking das economias mais competitivas do mundo, indo para a 75ª colocação, segundo o Relatório Global de Competitividade divulgado pelo Fórum Econômico Mundial (WEF) em parceria com a Fundação Dom Cabral. Após três anos consecutivos de perda de posições, estamos abaixo de concorrentes como México, Índia, África do Sul e Rússia, e de economias menores como Uruguai, Peru, Vietnã e Hungria.

Há dificuldades para quem quer empreender, mas elas já foram maiores. As empresas nacionais, em sua grande maioria, operam sob conceitos ultrapassados, cultivados durante o período em que nossa economia era fechada. Agir de forma diferente possibilita que se conquiste destaque. O cenário econômico dificulta, mas há grandes oportunidades. Quem sobreviver a este período com a adoção de modernos conceitos de administração estará forte quando a crise passar: será mais eficiente, terá mais chances de conquistar mercado e uma produção mais barata e competitiva. Difícil é, mas, como diz o ditado, só peixe morto não nada contra a maré.

(*) Hovani Argeri é consultor de empresas, mestre em Finanças e atua há mais de 20 anos como gestor comercial em multinacionais