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Varejo em alerta

s perspectivas de expansão do faturamento do setor já foram revisadas, neste ano, duas vezes e sempre para baixo.

São poucos os especialistas que arriscam previsões favoráveis para o desempenho do comércio varejista brasileiro neste ano, quando observados os dados gerais, diante da alta persistente dos índices de inflação e das expectativas de retração para o Produto Interno Bruto (PIB), além da menor oferta de crédito e a um custo mais alto, dada as consecutivas altas na taxa básica de juro. Cenário que atinge mais fortemente as companhias de pequeno porte, que representam cerca de 99% dos negócios no país, sendo responsáveis por 27% do PIB e uma média de 70% da oferta de novas vagas de empregos, segundo o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que ainda não arrisca projeções. Já a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) não descarta nova variação negativa neste ano, análise que a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) também compartilha.

"O varejo tem muitas sazonalidades. Apesar do cenário, as pessoas não vão parar de consumir, mas o consumidor vai buscar todas as formas possíveis de otimizar a relação custo-benefício, seja por meio de preços menores, marcas menos consagradas, melhores condições de pagamento ou simplesmente reduzindo o volume das compras", avalia Heloisa Menezes, diretora técnica do Sebrae. A CNC já revisou duas vezes as perspectivas de expansão do faturamento do setor e sempre para baixo. Iniciou 2015 considerando que poderia crescer 2% em termos reais, passou para 1% e já está em 0,3%. "Essa estimativa não contabiliza os mercados de veículos e material de construção. Com eles, já seria negativa. Ao longo do ano, virão novas revisões e devem ficar negativa", diz Fabio Bentes, economista da CNC.

Em 2014, o faturamento nominal do varejo alcançou R$ 1,637 trilhão, alta de 5,2% ante o ano anterior, e pode chegar a R$ 1,723 trilhão em 2015, no melhor cenário previsto, acredita Bentes. Para a FecomercioSP, na melhor das hipóteses, haverá estabilidade das receitas, este ano, em âmbito nacional. A entidade, no entanto, não descarta queda em torno de 1%, no pior momento econômico projetado hoje, afirma Vitor França, assessor econômico da FecomercioSP, acrescentando que o Estado de São Paulo não escapará de uma nova queda. No ano passado, o faturamento nominal do varejo paulista caiu 2,8% em relação a 2013, a R$ 537,2 bilhões, e para 2015 a previsão é recuo de 1% a 2%.

"Em São Paulo, os setores que não estão indo bem desde o ano passado, como o de veículos e bens que dependem muito de crédito para ser comercializados, têm um peso maior, assim como a classe de maior renda, que é a que está menos confiante nos rumos da economia e mais contaminada pelo clima político", explica França. A FecomercioSP baseia suas projeções sobre as pesquisas realizadas pelas secretarias de Fazenda, que já apontaram retração de 5,4% no faturamento dos estabelecimentos comerciais do Estado, em janeiro, para R$ 41,8 bilhões, em torno de R$ 2,4 bilhões inferior quando comparado ao de janeiro de 2014.

Já a CNC baseia suas expectativas nas pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Após registrar crescimento médio anual de 8,1% na última década encerrada em 2013, o setor começou a ver seus números caindo gradativamente mês a mês a partir do ano passado, quando o volume de vendas fechou em queda de 1,7%, até despencar no acumulado do primeiro bimestre de 2015, conforme os últimos dados do IBGE. O volume de vendas do comércio varejista brasileiro ampliado - no qual se considera também as vendas de material de construção e de veículos, motos, partes e peças - encolheu 7,5% e a receita nominal caiu 1,7%, comparativamente ao primeiro bimestre de 2014.

No acumulado de 12 meses até fevereiro, em relação à igual período imediatamente anterior, a queda no volume de vendas foi de 3,8%, com a receita nominal subindo 1,9%. Nessa mesma base de comparação, a queda no volume de vendas foi puxada principalmente pela retração em cinco dos dez segmentos pesquisados pelo IBGE: livros, jornais, revistas e papelaria (- 9,1%), veículos, motos, partes e peças (- 12,8%), material de construção (-2,8%), tecidos, vestuário e calçados (- 2,2%) e móveis e eletrodomésticos (-1,6%).

Segundo projeções da CNC, essas áreas, exceto material de construção com leve alta de 0,5%, devem terminar 2015 com queda nas vendas. A entidade estima recuo de 23,6% em veículos, motos, partes e peças; 4,5% em livros, jornais, revistas e papelaria, 4,1% em tecidos, vestuário e calçados e 1,5% em móveis e eletrodomésticos. A lista de projeções negativas da CNC inclui ainda o setor de combustíveis e lubrificantes, com queda de 3,7% no ano ante saldo positivo de 0,2% no acumulado até fevereiro.

A boa notícia para o varejo virá do crescimento estimado para os setores de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (6,3%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (2,8%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (5,2%) e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (1,1%). "Mas quase todos crescem menos que no ano passado", observa Bentes.

A FecomercioSP não faz projeções por segmentos, mas França acredita que os de bens duráveis (veículos, material de construção e eletrodomésticos e eletroeletrônicos), mais dependentes de crédito e planejamento de longo prazo das famílias, devem continuar em queda, porém inferior a do ano passado. Já os enquadrados em não duráveis (supermercados, produtos farmacêuticos e de perfumaria) não devem crescer no mesmo ritmo de 2014 e podem até registrar variação negativa. No ano passado, o faturamento dos varejistas paulistas que operam com bens duráveis somou R$ 136 bilhões, 13,5% menos em termos reais ante 2013. Já os de não duráveis movimentou cerca de R$ 191 bilhões, com alta de 2,9%.