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Conhecimento define o salário
Além de se manter competitivo, profissional mais qualificado tende a ser melhor remunerado
Quando veio morar em Londrina com a esposa em 2005, o curitibano Marcelo Gonçalves da Silva, de 35 anos, era formado no antigo Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet), hoje incorporado à Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Na capital, trabalhava no setor de produção da Volkswagen. Teve dificuldades para encontrar algo parecido em Londrina, cidade cuja vocação industrial ainda é muito incipiente. Decidiu ajudar o sogro a administrar um posto de combustível.
Ficou nessa vida por quatro anos, até que decidiu retomar os estudos. Convencido por um amigo que coordena os cursos de Logística e Gestão Empresarial na Universidade Norte do Paraná (Unopar), resolveu fazer a graduação em Administração na instituição. Tomou gosto pela área, encarou duas especializações concomitantemente (Gestão Industrial em Negócios, na Universidade Estadual de Londrina, e Metodologia de Ensino Superior, na Unopar) e desde março deste ano é professor de Logística e Gestão Comercial na própria Unopar e de Técnico em Logística e Informática pelo Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). Está plenamente realizado. "Apesar de atuar num setor que a gente sabe no Brasil que tem muitas dificuldades, que é a educação, adoro ser professor e estou com minha autoestima lá em cima", afirma. Ele já se planeja para iniciar o mestrado na área de Ciência Social ou Economia.
Quanto maior o grau de titulação, maior a remuneração de um professor universitário. Em média, segundo a reportagem apurou, os valores aumentam 35% de especialista para mestre, 55% de mestre para doutor e, em algumas instituições, o doutorado chega a render 70% a mais em relação à especialização.
COMMODITY
No mercado corporativo, a pós-graduação virou necessidade. Além de se manter competitivo, o profissional mais qualificado tende a ser melhor remunerado. A consultoria Produtive, de São Paulo, divulgou um estudo sobre a relação do avanço da capacitação com o nível de remuneração nas regiões Sul e Sudeste, com base em uma amostra realizada com cerca de 400 executivos no ano passado e nos primeiros sete meses deste ano.
A remuneração média dos que tinham apenas a graduação (23% dos entrevistados), foi de R$ 5.812. Já a média salarial dos executivos pós-graduados (68%) ficou em R$ 9.306. Aqueles que disseram ter mais do que uma pós no currículo receberam em média R$ 12.801 por mês. No topo do nível de capacitação, mestres e doutores (9%) tiveram uma remuneração de R$ 13.804. Ao comentar os resultados da pesquisa para o site da Produtive, o CEO da empresa de consultoria, Rafael Souto, disse que a pós-graduação, para o nível executivo, "virou commodity". "Para aumentar a capacidade de se engajar em diferentes trabalhos, as pessoas perceberam que precisam investir em pós-graduações mais avançadas", avaliou.
A diretora de operações da empresa, Ana Bortolini, diz à FOLHA que o mercado interpreta que o profissional sem uma pós-graduação está aquém do nível de qualificação esperado para exercer cargos de maior responsabilidade. "O diferencial hoje é ter mais de uma pós, seja mestrado ou doutorado. Isso caracteriza que essa pessoa investe na sua qualificação e está preocupada em desenvolver conhecimentos e competências da sua formação", aponta. "O conhecimento tem prazo de validade. O que a gente estudou dez anos atrás já mudou. O profissional deve se preocupar com iniciativas de educação que o mantenham atualizado. Esse é o aspecto que o mantém competitivo dentro do ambiente de trabalho", ressalta a executiva.
O professor Marcelo Gonçalves da Silva, que se valeu de duas especializações para ingressar na docência, lembra que os cursos de Gestão Comercial e Logística são direcionados para a formação de executivos e profissionais que atuam no mercado corporativo. E o que ele diz mais enfatizar para seus alunos é não encerrar os estudos na graduação. "Não adianta só fazer o curso, você não vai chegar a conhecimento algum. Na pós-graduação você consegue estabelecer um networking e tem a possibilidade de conviver com pessoas de áreas diferentes, não fica restrito à mesma doutrina de ensino, escrevendo as mesmas coisas. Além disso, quem tem mais conhecimento tem as melhores oportunidades. Quem vai definir o seu salário é o seu conhecimento", indica.