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Brasil desigual: como ampliar o acesso à educação financeira às mulheres?
As mudanças socioeconômicas que enfrentamos nos últimos anos resultaram em um cenário de transformações também para os investidores.
As mudanças socioeconômicas que enfrentamos nos últimos anos resultaram em um cenário de transformações também para os investidores. Se por um lado a pandemia se mostrou um desafio gigantesco para a economia, dadas as taxas de desemprego elevadas, o alto nível de mortalidade e o isolamento social, por outro, a crise econômica despertou a necessidade de um olhar mais atento dos consumidores para o planejamento financeiro.
Pesquisa realizada pela ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) mostra que, para 27% dos brasileiros, o aumento da inflação não impacta na decisão de investir ou não. Outros 24% afirmam que isso aumenta a possibilidade de uma nova aplicação.
De toda forma, conforme a digitalização avança e as oportunidades de investimento se tornam mais amplas e acessíveis, cresce também a demanda por mais segurança e confiabilidade nas transações, pois a falta de conhecimento sobre os modelos de investimento pode resultar em apostas fracassadas. Assim, para que o sentimento de incerteza seja combatido, é preciso que se invista em educação financeira.
No Brasil e em grande parte do mundo, contudo, notamos que existe um grande déficit de educação financeira, uma vez muitos chegam à idade adulta sem noções básicas sobre como administrar suas finanças. Esse abismo é ainda maior quando analisamos a participação das mulheres nessa questão. Em pesquisa realizada pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), 15,1% das brasileiras possuem saúde financeira ruim, enquanto que, no universo masculino, esse número é de 8,3%.
O estudo demonstrou também que 53,6% das brasileiras vivem com gastos acima da renda e esses índices podem ser consequência da falta educação financeira adequada para que o público feminino seja mais ativo em seus investimentos. Mais importante que poupar e investir é saber como guardar e fazer as escolhas mais adequadas de investimento para evitar possíveis perdas e desvalorização dos lucros.
Nesse sentido, o levantamento “Women and Investing" evidenciou que, muitas vezes, os aconselhamentos recebidos por mulheres de seus gestores de patrimônio não são satisfatórios, pois não atendem suas necessidades. Essa afirmação foi comprovada por uma outra pesquisa da EY, que aponta que 67% das investidoras em todo o mundo não se sentem compreendidas por seus gestores.
Essa falta de identificação resulta em um gap de conhecimento, que pode desencadear outros problemas para as investidoras. Por exemplo, um dos princípios fundamentais de uma estratégia de investimento é que a carteira de aplicações seja diversificada, tanto em termos de setores e moedas, quanto geografias e ativos, idealmente fixos e tangíveis, como é o caso do setor imobiliário - alternativa mais acessível atualmente graças ao desenvolvimento da tecnologia e das Fintechs em todo o mundo. Essa é uma das medidas recomendadas para evitar perdas totais em caso de desvalorização do ativo. Contudo, segundo levantamento da Onze, fintech de saúde financeira e previdência privada, as mulheres ainda têm preferência por investimentos mais conservadores. Para cumprir com as metas financeiras de 2022, 32,4% delas pretendem investir na poupança.
Nesse contexto fica evidente que a educação financeira precisa se tornar mais acessível e, sobretudo, ser pensada para atender e acolher diferentes públicos de maneira mais abrangente. É essencial compreender demandas e desafios específicos de cada perfil de investidor. Vale ressaltar que empoderar as mulheres com conhecimento sobre finanças também é interessante para o mercado como um todo, pois grande parte dos lares são administrados por mulheres e quase 30% delas pagam todas as despesas de casa sozinhas, de acordo com o estudo “Panorama de Consumo e Investimento da Mulher Brasileira”.
A participação da mulher na economia contribui para a geração de empregos e especialmente para a transformação das relações sociais, pois ter controle e conhecimento sobre o próprio dinheiro gera benefícios além da independência financeira; é também uma forma de empoderamento e autonomia. Assim, a educação financeira pode ajudá-las a investir na aplicação certa e obter um retorno esperado, permitindo que muitas saiam de uma posição de dependência e vulnerabilidade para atingir estabilidade financeira de longo prazo.
*Sofía Gancedo é co-fundadora e COO da Bricksave, licenciada em Administração de Empresas pela Universidade de San Andrés e mestre em Economia pela Eseade. Recentemente, foi laureada com o prêmio Globant Awards - Women that Build.